7 de março de 2013

JUDAÍSMO CONSERVADOR EM ISRAEL ALEGA RACISMO CONTRA “JUDEUS POR ESCOLHA”

Jerusalém, 28 de fevereiro de 2013



O movimento Conservador Judaico (Masorti) em Israel acusa o Ministério do Interior de racismo e discriminação contra latinos e afro-americanos no que diz respeito à aprovação de solicitações de imigração feitas por convertidos ao Judaísmo. O caso mais famoso, que chamou a atenção e levou o Masorti abordar diretamente o racismo, é o atraso na aceitação do pedido de imigração de um grupo de cerca de 300 convertidos naturais da região de Iquitos, Peru, conhecido como "Judeus da Amazônia".
A lei israelense permite a imigração e naturalização de qualquer pessoa com pelo menos um avô judeu ou que se converta oficialmente ao Judaísmo (autorizado por um tribunal de três rabinos, não especificando a denominação) e pertença pelo menos 9 meses à uma comunidade judaica.
"O problema de Iquitos é claramente uma questão de racismo", disse à Efe Andrew Sacks, diretor da Assembleia Rabínica de Israel, que atribuiu a discriminação ao fato de que "há muitos burocratas do Ministério do Interior empossados pelo partido político Shas (ultra-ortodoxo sefardita) que não estão interessados em receber no país pessoas as quais duvidam". Estas dúvidas, diz ele, surgem quando os convertidos ao Judaísmo são de países em desenvolvimento ou de um contexto de poucas oportunidades econômicas, além da etnia dos candidatos.
"Não é só o caso dos peruanos, que completaram suas conversões em agosto de 2011 e ainda não puderam imigrar. Há também casos na Argentina, Bolívia e Colômbia. Além disso, foi detectado o mesmo problema envolvendo afro-americanos", explicou.
Sabin Hadad, porta-voz do Ministério do Interior, disse à Agência Efe que as acusações de racismo são "um disparate".
"Quem diz que há racismo não entende nada. Em Israel há pessoas de todas as cores", disse Hadad, que frisou, no caso dos judeus de Iquitos, o (Departamento do ) Interior "não rejeitou a imigração de ninguém, entretanto, ainda avalia cada detalhe e espera por uma resposta".
No ano passado, o movimento Masorti alegou ter tido problemas com cerca de 15 casos envolvendo latino americanos, além dos 284 de Iquitos no Peru. Sacks acredita que "se eles fossem europeus, tudo seria diferente".
Em sua opinião, funcionários do Departamento do Interior "são muito cautelosos com as pessoas de cor e os latinos americanos" porque suspeitam que eles tenham se convertido ao Judaísmo "para melhorar sua situação econômica e não por motivos religiosos".
"Se você é branco e tem uma boa situação financeira, não há dúvidas que a sua conversão é legítima. Entretanto, nada que não seja sério envolve estudar durante 5 anos e converter-se!” Exclamou.
Ele também insiste que os funcionários do (Departamento do) Interior não tem o direito de questionar a motivação dos novos judeus, mas apenas determinar se a conversão ocorreu dentro dos padrões e, se assim for, apenas em casos excepcionais (como a de um requerente com histórico de crimes graves) podem negar a nacionalização.
Sacks disse que o problema também afeta o Movimento de Reformista, mas salienta que a grande maioria das conversões na América Latina ocorrem através do Movimento Masorti (Conservador).
Sandra Kochmann, nascida e criada no Paraguai é a primeira mulher rabina no Brasil (também do Movimento Conservador), também acredita que "qualquer pessoa de cor que tem tido uma conversão correta enfrenta algum obstáculo na hora de apresentar os papéis, pois em Israel "duvidam que pessoas de cor ou da América do Sul não fizeram a conversão porque se identificam com o Judaísmo, mas sim para deixar seus países".
Contra essa interpretação está Jack Corcos, diretor da Agência Judaica encarregado de aprovar a idoneidade dos migrantes, que rejeita o argumento do racismo. "O problema (com Iquitos) é que trata-se de um grande grupo, o que levanta questões sobre seus motivos, se fazem isso porque querem ser judeus ou porque eles querem a nacionalidade judaica", explicou ele.
A Agência Judaica tem apoiado a nacionalização do grupo peruano e acredita que "não há nenhuma razão para ter de esperar tanto tempo", especialmente quando centenas de membros da comunidade de Iquitos emigraram para Israel em duas levas, em 2001 e 2005.
Niki Maor, advogada que representa vários casos de convertidos que enfrentam problemas para imigrar, não acredita que seja caso de racismo, mas sim a quantidade de pessoas no grupo peruano.
"A conversão e chegada de muitos judeus etíopes mostra que não é uma questão de oportunidade econômica ou raça", diz ele, e observa que "em conversões individuais geralmente não há problemas", a menos que as pessoas residam ilegalmente em Israel.
As dúvidas com relação ao (Departamento do) Interior deve, diz ele, que o grupo é muito grande e os rabinos que os converteram não são ortodoxos; a única denominação judaica em Israel com autoridade legal, mas sim conservadores.
"Se o rabino-chefe tivesse ido ao Peru e realizado as conversões, não haveria problemas", especulou.

Fonte: Ana Cárdenes - EFE